Quem está acompanhando a mídia nacional e internacional tem visto os protestos que ocorrem no Egito, onde o Presidente Hosni Mubarak está a 30 anos no poder, e metade da população vive abaixo da linha da pobreza. O regime de Mubarak é um dos poucos que reconhecem o Estado de Israel, e recebe apoio bélico e financeiro do governo norte-americano. O Egito, pois, é um país estratégico para a ideologia da “guerra ao terror” estadunidense. A revolução que está em curso no Egito tem muitos símbolos e lições, todas elas didáticas a povos como o brasileiro, e, particularmente, aos militares e afins.
O primeiro aspecto a se ressaltar é a dimensão da mobilização: são cerca de 2 milhões de pessoas em todo o país se manifestando nas ruas contra o regime. Não apenas as classes baixas, mas a classe média e alta estão engajadas nos protestos – segundo o blog de Miriam Leitão, colunista d’O Globo, uma fonte diplomática chegou a afirmar que conversou com uma mulher da alta classe média do Cairo e ouviu que ela havia mandado os filhos para a manifestação. O desejo de mudança parece esmagador na população.
O ditador, ao perceber a mobilização, tomou como medida primeira o bloqueio do acesso à internet no país, tentando evitar que as informações fluíssem, e que omundo tomassem conhecimento dos protestos (entenderam porque liberdade de expressão é um “Direito Humano”?). A imagem abaixo, publicada por Marcelo Tas em seu blog com o título “Alguém ainda duvida das redes sociais?” ilustra o desejo de um manifestante em propagar suas ideias através da internet:
Aqui peço licença ao leitor para um contraponto, saindo do Egito e nos direcionando à realidade da segurança pública brasileira, onde um Capitão do Corpo de Bombeiro Militar do Rio de Janeiro (CBMERJ) encontra-se preso no momento em que escrevo por ter enviado a seguinte mensagem SMS para o Secretário de Saúde, ao qual o CBMERJ está subordinado:
“Se tiver vergonha nos próximos 4 anos, tente ao menos olhar p/ os q são bombeiros de sua SECRETARIA. Feliz 2011!” (sic)
Voltemos ao Egito, a uma das imagens mais instigantes dos protestos, onde um capitão (coincidência?) do Exército Egípcio desertou publicamente, e se uniu ao coro das reivindicações contra o governo Ditatorial. Fardado e identificado, foi carregado nos ombros do povo:
Segundo O Globo, o Capitão Ehab Fathy disse publicamente que “Deixei meu posto para vir com vocês, pois sou contra Hosni Mubarak. Muita gente nas forças armadas sabe julgar e ser justo!”.
As iniciativas dos capitães nos fazem refletir sobre os limites da obediência e da submissão a um regime político. Qual é o maior bem que pode ser atingido por um governo? Qual o ponto em que o silêncio deixa de ser aceitável? Quando o protesto e a expressão da indignação é inevitável?
Outro ponto é o quanto é curioso ver o como algumas medidas extremas de repressão à opinião e à liberdade de expressão se assemelham em governos distintos, separados, mesmo com aparentes níveis distintos de democracia. De todo modo, é preciso observar a coragem dos capitães Botto e Ehab, que ousaram abraçar causas arriscando o conforto de seus cargos e patentes. A eficácia de suas coragens, só o futuro dirá…
Autor: Danillo Ferreira
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