Major Rocha é candidato a Deputado Estadual pela oposição

Durante a convenção dos partidos que compõe o bloco de oposição ao governo da frente popular, coligação “Liberdade, produzir para empregar”, em uma festa que contou com a participação de mais de 6 mil pessoas que lotavam às dependências da antiga concessionária Sabenacre, na Via Verde, o major Rocha teve a sua candidatura à Deputado Estadual lançada pelo PSDB. Rocha, que liderou o movimento realizado pelos militares estaduais acreanos, chegou a ser convidado para ser candidato a vice-governador em uma chapa encabeçada pelo peemedebista Rodrigo Pinto, tendo optado por concorrer a uma das cadeiras na Assembleia Legislativa do Acre.

Wherles Fernandes da Rocha é acreano de Rio Branco, casado, pai de dois filhos, graduado em Segurança Pública e formando em Direito e jornalismo, com 19 anos na Policia Militar do Acre. 

Veja a entrevista:

O senhor foi preso, recebeu tratamento dispensado a criminosos de alta periculosidade por ter defendido policiais e bombeiros militares, o senhor não tem medo de ser expulso da policia militar através de um conselho?

Sou uma pessoa que não abro mão das minhas convicções e não admito injustiças, isso tem me custado caro. A prisão não foi à única perseguição que sofri, fui impedido de exercer qualquer função de comando e nem se quer fui classificado nos lugares em que trabalhei, hoje, apesar de ter quase 7 anos de major, meu salário é menor do que o de muitos capitães dentro da polícia militar. Ouvi comentários que haviam planejado um conselho de justificação prá me excluir da policia militar, tenho minha consciência tranquila, acredito na justiça do nosso Acre e sei que eles corrigiriam os possíveis erros cometidos por um conselho.

Sobre a prisão, o senhor sabe de algum outro oficial superior que foi submetido ao mesmo tipo de pena?

Quando você fala de pena é bom lembrar que punição disciplinar não é pena, é uma prisão administrativa, ou seja é uma prisão que não é decretada por um juíz. Mesmo assim eu posso afirmar com toda certeza que nenhum outro oficial foi preso e tratado como um criminoso. Não sei se você lembra mais criaram até uma espécie de RDD, através de uma portaria, que foi aplicada somente nos períodos em que eu fui preso. Lembro que no momento da minha prisão o Coronel Ramalho queria que eu fosse escoltado até a COE, igual a um criminoso de alta periculosidade.

O Senhor falou de uma portaria que foi criada somente para tratar somente da sua prisão?

Não é que ela tenha sido criada somente para a minha prisão, mais ela só foi aplicada a mim e a mais ninguém.

E o que diz essa portaria?

Essa portaria diz que o preso, no caso eu, teria que ficar trancafiado o dia inteiro e só poderia sair para o banho de sol 2 ou 3 vezes por semana. Que estava proibido trazer alimentação de outros locais que não fosse a colônia penal, por isso eu me recusei a comer.

E como foram os dias em que o senhor ficou preso?

A liberdade é um bem muito precioso, ficar preso e privado do convívio com a família é terrível. As coisas ficam piores quando o local onde você está preso não oferece condições dignas nem pra um bandido. Fiquei trancado em um cubículo de aproximadamente 6 metros quadrados e com as paredes completamente cobertas de mofo, muita umidade e o banheiro exalava um odor forte e não funcionava direito. Quando fiquei sabendo que ia ser preso pensei que ia cumprir a punição em um local mais adequado.

Que tipo de local?

Poucos dias antes de sair a minha prisão um capitão havia sido punido, ele cumpriu sua punição no alojamento da Ciatran onde tem um quartel novo e um alojamento com frigobar e televisão.

Porque o senhor não cumpriu sua punição no alojamento da Ciatran?

Bem, essa pergunta quem tem que responder é quem me prendeu.

Mais o senhor não acha que há certa dose de maldade na escolha do local onde cumpriu a sua prisão?

Eu acho que sim, penso que o local foi escolhido com a intenção de aumentar o meu sofrimento, uma espécie de torturazinha justificada por um regulamento disciplinar inconstitucional, embora nem mesmo o próprio Regulamento disciplinar tenha sido respeitado no momento da minha punição. Em minha opinião até mesmo as demais situações criadas pela portaria tinham o objetivo de me humilhar, de tentar quebrantar as minhas forças.

Quanto a sua candidatura, o senhor sabe que a diretoria da AME não vai lhe apoiar?

Sim, sei que eles não vão apoiar ninguém que diga a verdade sobre esse governo. Eles estão totalmente comprometidos com o governo e esqueceram os militares, estão preocupados apenas com seus próprios interesses. Estamos vendo os policiais reclamarem da escala de serviço, do banco de horas, do abono de produtividade e de uma série de outros problemas, os bombeiros também estão insatisfeitos com o banco de horas, com a gratificação de comando e com o aumento do percentual nas vagas destinadas ao quadro de administração que até hoje não foi estendido a eles. Isso tudo acontecendo e a AME não se pronuncia, não assume o seu papel de defender os direitos dos militares.

E quanto aos problemas que aconteceram na AME?

Bem, não poderíamos compactuar com aquilo que está acontecendo na associação, o conselho fiscal confirmou as irregularidades e não poderíamos ficar calados sob pena de ser apontado como um dos responsáveis pelos desmandos. Outras irregularidades também foram constatadas, o próprio cartão corporativo da AME foi usado para pagar contas pessoais. Prá completar surgiram informações que diziam que a diretoria da AME havia se aliado ao governo, como os sindicatos e outras entidades representativas. Se considerar que somente eu fui preso após o movimento do dia 4 de maio, acho que isso não foi de graça, afinal ninguém vai mandar prender um aliado.

O senhor acha que a diretoria da AME está aliada ao governo?

Penso que sim, veja que nenhum deles foi preso por conta do movimento do dia 4 de maio. Mais ainda, eles estão calados e os militares estão sendo massacrados. Tirando a banca de advogados a AME não está fazendo nada prá defender nossos direitos. Sei que eles vão tentar empurrar um candidato a deputado estadual atrelado ao governo, no final do ano entrará em votação um projeto que acaba com vários direitos dos militares estaduais, tais como o auxílio inatividade e o posto ou graduação a mais, pergunto se um deputado aliado ao governo vai poder falar alguma coisa contra essa aberração de projeto? Lógico que não, se hoje eles já não dizem nada imagine um deputado preso pela tal fidelidade partidária?

Sobre os seus projetos, o que o senhor pretende fazer na ALEAC para contribuir com os militares e com a sociedade?

O parlamento é uma peça importante, acho que temos que ter uma voz que denuncie os desmandos e absurdos que ocorrem dentro dos quartéis. Temos que humanizar o nosso regulamento disciplinar, temos que pensar em habitação, laser e saúde para os militares e seus familiares. Vamos fazer a indicação para a construção de um colégio militar.

E para a sociedade?

Esses projetos já contemplam a sociedade mais temos outros projetos destinados para toda comunidade.

E porquê o PSDB?

Depois de tudo que fizeram comigo e com todos os militares de dentro dos nossos quartéis, bombeiros e policiais militares estão insatisfeitos com o descaso e o desrespeito que estão nos tratando. Lembro que esse Governador chegou ao descalabro de chamar pais e mães de família que queriam melhores condições de trabalho e de salário de BADERNEIROS, sem contar no descumprimento de leis e os outros abusos a que somos submetidos, isso me inclinou naturalmente para a oposição, para acaba com todos esses absurdos, espero poder contribuir para restabelecer a democracia e a liberdade dentro do nosso estado. O PSDB é o principal partido de oposição e isso foi determinante para a minha escolha.

E como será a sua campanha?

Espero fazer uma campanha simples, quero buscar o apoio dos nossos policiais e bombeiros militares, da minha família, dos amigos e dos acreanos que querem ver um Acre sem perseguições, sem essa ditadura.

Como o senhor avalia o governo da frente popular?

É um governo que vive de publicidade, que gasta mais dinheiro com propaganda do que com segurança. Nosso Acre não produz nada, não temos emprego para os jovens que vão buscar uma ocupação no crime, não é de se estranhar que proporcionalmete tenhamos o maior numero presos para cada mil habitantes do Brasil, isso é reflexo da falta de emprego. Outro exemplo vem do próprio governador Arnóbio Marques, ele que foi professor da rede pública de ensino e vive dizendo que a educação pública no Acre é uma das melhores do Brasil, além de destratar os professores ele próprio não confia na educação que ele ajudou a construir, a prova disso é que seus filhos estudam em escolas particulartes.

E o projeto da oposição?

Nosso projeto tem como lema “Liberdade, produzir para empregar”, acho que o lema resume muito bem aquilo que o nosso Acre necessita. Em todos os segmentos da sociedade existe um medo generalizado da perseguição do governo, poucos se atrevem a abrir a boca e reclamar seus direitos ou denunciar irregularidades. Temos que mudar o quadro produtivo, hoje não produzimos nada no nosso estado, tudo porque esse governo nunca investiu no fortalecimento desse segmanto.

Boa sorte nessa nova jornada.

Obrigado, espero poder contribuir com o engrandecimento da nossa categoria e do nosso Acre.