quarta-feira, 25 de julho de 2012

Professor pede a extinção da Polícia Militar no Brasil


Pela extinção da PM

Por VLADIMIR SAFATLE (professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP - Universidade de São Paulo).

No final do mês de maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu a pura e simples extinção da Polícia Militar no Brasil. Para vários membros do conselho (como Dinamarca, Espanha e Coreia do Sul), estava claro que a própria existência de uma polícia militar era uma aberração só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das amarras institucionais produzidas pela ditadura.

No resto do mundo, uma polícia militar é, normalmente, a corporação que exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações militares, aos prédios públicos e aos seus membros.

Apenas em situações de guerra e exceção, a Polícia Militar pode ampliar o escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios públicos.

No Brasil, principalmente depois da ditadura militar, a Polícia Militar paulatinamente consolidou sua posição de responsável pela completa extensão do policiamento urbano. Com isso, as portas estavam abertas para impor, à política de segurança interna, uma lógica militar.

Assim, quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais (como em Pinheirinho, na cracolândia ou na USP) e em ações triviais de policiamento, de nada adianta pedir melhor "formação" da Polícia Militar.

Dentro da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. O único detalhe é que a população não equivale a um inimigo externo.

Isto talvez explique por que, segundo pesquisa divulgada pelo Ipea, 62% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na Polícia Militar. Da mesma forma, 51,5% dos entrevistados afirmaram que as abordagens de PMs são desrespeitosas e inadequadas.
Como se não bastasse, essa Folha mostrou no domingo que, em cinco anos, a Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que toda a polícia norte-americana ("PM de SP mata mais que a polícia dos EUA", "Cotidiano").

Ou seja, temos uma polícia que mata de maneira assustadora, que age de maneira truculenta e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é capaz de dar sensação de segurança à maioria da população.

É fato que há aqueles que não querem ouvir falar de extinção da PM por acreditar que a insegurança social pode ser diminuída com manifestações teatrais de força.

São pessoas que não se sentem tocadas com o fato de nossa polícia torturar mais do que se torturava na ditadura militar. Tais pessoas continuarão a aplaudir todas as vezes em que a polícia brandir histericamente seu porrete. Até o dia em que o porrete acertar seus filhos.


Leitores criticam o texto



Leitores comentam artigo do colunista da Folha Vladimir Safatle sobre a extinção da Polícia Militar no Brasil.
Veja as opiniões
Conquanto a Polícia Militar tenha uma estrutura e uma lógica militares, e sem negar a truculência com que muitas vezes age (o que é de conhecimento público, sobretudo nas regiões periféricas da cidade), pensar na sua extinção é simplesmente desconhecer seu papel.
Não se pode esquecer, primeiramente, que a instituição da PM não se enquadra nas Forças Armadas (o que parece ser ignorado pelo colunista Vladimir Safatle. Em segundo lugar, somente quem trabalha diuturnamente com a questão da criminalidade pode aferir a necessidade ou não da PM na linha de frente de combate ao crime.
Excessos devem ser apurados e, uma vez verificados, punidos. Fora isso, qualquer opinião proveniente de gabinetes e escritórios instalados num mundo paralelo e alheios à realidade deve ser desconsiderada, mesmo porque, a extinguir-se a PM, quem desempenharia as funções atinentes à segurança pública?
No mais, a ONU (citada por Safatle) não parece ser o órgão mais indicado para tratar da questão da segurança nem no Brasil nem em qualquer lugar que seja.
JARBAS LUIZ DOS SANTOS, juiz de Direito (São Paulo, SP)
*
Manifesto-me contra a extinção da PM, pois, no Brasil, não há instituição que mais e melhor combata a corrupção, em seu seio, do que ela.
Já quanto às "mortes em confronto com policiais", digo que o poder civil há anos vem sinalizando que "bandido bom é bandido morto", o que fortalece (irresponsavelmente), entre os militares de São Paulo, aqueles que põem em segundo plano a contenção da violência desnecessária do Estado.
PEDRO FALABELLA TAVARES DE LIMA, procurador de Justiça (São Paulo, SP)
*
Num Estado cujos policiais preferem usar o porrete em vez do cérebro, o artigo é extremamente corajoso. Há uma frase famosa que diz que a farda modela o corpo, mas atrofia a mente. Em São Paulo, a Polícia Militar tem sido exemplar nesse sentido.
LUIS GUSTAVO REIS (São Paulo, SP)
*
Não concordo com a extinção da PM. Sempre que fui abordado por ela, fui tratado com educação. Ninguém é a favor da violência ou da tortura. Devem-se corrigir os erros e punir os culpados, pois isso faz parte da evolução em todos os setores da sociedade.
CARLOS INHASZ (São Paulo, SP)
Fonte: FOLHA

3 comentários:

  1. O general ADRIANO PEREIRA JR, hoje em entrevista no Programa Canal Livre da Band, 30 de julho de 2012, demonstrou entender mais da Polícia Militar do que os próprios PMs. Ele explicou a diferença entre um soldado da PM que é de carreira e de um soldado do Exército.
    Não existe carreira de soldado do Exército, este é treinado para a guerra que é um serviço excepcional. E o soldado da PM tem uma vida inteira para desempenhar essa função, assim ele não pode ser pautado pelo REGULAMENTO DO EXÉRCITO, que é feito para períodos de exceção, ou seja, GUERRA!
    O próprio General em sua entrevista deixou claro que os códigos aplicados no EXÉRCITO não devem ser aplicados para os SOLDADOS DA POLÍCIA MILITAR, as funções são de natureza diferenciadas.
    Usar o regulamento do Exército para a Polícia Militar é infringir direitos trabalhistas duramente conquistados ao longo de décadas, precisamos rever isso com o máxima urgência. Coronéis da PM, o próprio General do Exército deu a deixa…
    Fonte blog Vanessa fontana http://vanessadesouza.wordpress.com/2012/07/30/general-adriano-pereira-esclarece-o-que-e-ser-soldado-do-exercito-e-soldado-da-pm/

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  2. ESTE SERÁ O CAMINHO DA SABEDORIA PARA OS DOIS LADOS;;;POLICIA MILITAR E POVO...TODOS SAIRÃO GANHANDO E A PURA DEMOCRACIA SURGIRÁ..

    OU MUDEM COM URGÊNCIA TIRANDO O MILITARISMO DAS POLICIAS;;;JÁ NAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO;;;RASGANDO POR COMPLETO OS REGULAMENTOS(TODOS).

    MILITARISMO É PARA EXÉRCITO, POIS SEU MAIOR PAPEL É DESTRUIR O INIMIGO E VENCER GUERRAS E NÃO SEU POVO. OUTA COISA BOA É OBTER EXPERIENCIAS COM OS CHAMADOS A N T I G Ã O, POIS SIM TENHO MAIS DE TRINTA ANOS NA PROFISSÃO ESTRESSANTE E MATA E FAZ MATAR.

    Acesse o Artigo Original: http://www.uniblogbr.com/2012/07/policia-militar-deveria-ser-extinta.html#ixzz229SxPZPv

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  3. Esta é a hora de extinguir a polícia militar sim, e transformá - la juntamente com a polícia civil em uma polícia estadual desmilitarizada. Pois nem nós mesmos aguentamos os abusos internos cometidos por certos "superiores", e não tenho dúvidas de que esses erros que tiraram vidas inocentes, sejam consequências dos absurdos sofridos pelos polícias que trabalham sem uma folga digna, baixos salários, assédio moral, prisões administrativas e o único direito que temos, que é o de ficar calado diante desses absurdos. Então deixemos de hipocrisia, que essa terminologia militar não nos vai fazer falta nenhuma ! Pelo contrário vai propiciar que evoluamos ao ponto de prestarmos um bom serviço a sociedade, e não aos comandantes oficiais militares. MUDANÇA JÁ !!!!!!!!!!!!

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