sexta-feira, 13 de julho de 2012

A velha máxima de que a hierarquia e a disciplina são os sustentáculos das corporações vai se fragilizando, diz tenente-coronel


ESCOLHAS


Ao longo dos tempos vai se cristalinizando que a hierarquia nas corporações militares no Brasil manteve-se alicerçada sob os auspícios da disciplina. Pois os exemplos que dão sustentação a essa afirmativa estão presentes em inúmeros episódios ocorridos e que ocorrem rotineiramente nos quartéis e locais sob a égide da autoridade militar.
A velha máxima de que a hierarquia e a disciplina são os sustentáculos das corporações e que devem ser mantidas a qualquer custo como única opção de sobrevivência da corporação militar estadual, vai se fragilizando e mostrando que é perfeitamente cabível colocá-las em prática atendendo tardiamente a um novo modelo, onde os direitos humanos e os direitos fundamentais dos integrantes da instituição militar possam ser respeitados e vivenciados.

As abordagens dentro dessa visão, existentes ainda nos instrumentos legais utilizados na caserna, mostram que em verdade e ao longo do tempo foram factóides, usados apenas para mostrar e demonstrar direitos que foram usurpados das graduações mais inferiores.

As verdadeiras argumentações e muita das vezes, a razão cristalina defendida perdia sua sustentabilidade simplesmente no convencimento da autoridade de que para mantê-la, utilizava a legalidade dos instrumentos (regulamentos) para satisfazer suas vontades.

Eram comuns até mesmo pessoas estranhas a caserna, investirem-se ou revestirem-se desse pensamento para defender a utilização ferrenha de instrumentos que já não mais são aceitos na era em que o estado democrático de direito vai se fortalecendo e ganhando corpo em todos os aspectos da vida nacional.

Quantas imoralidades não foram cometidas e continuam ainda a desafiar os policiais militares, sob o manto da legalidade?
- Punições privativas de liberdade, ferindo flagrantemente o direito constitucional de ir e vir, sem levar em conta a utilização dos sagrados princípios constitucionais (sem a observância integral do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, do cerceamento de defesa) e tantos outros insculpidos na carta maior do país e nos instrumentos internacionais assinados em que os governos do Brasil juraram defender.
- Ascensão sem oportunidades iguais, subjetivas e privilegiando aqueles que pela oportunidade estão mais próximos de quem possui o poder decisório.
- Transferências para locais mais longe de seus domicílios, dificultando a convivência familiar.
- Designações para funções contraditórias as formações, habilidades e vontades.
- Cortes de gratificações.
Tudo isso e mais algumas outras situações, são exemplos que ainda ocorrem freqüentemente e são submetidos todos aqueles que ousam discordam de posições, que atrapalham interesses ou simplesmente são alvos de experimentarem a demonstração do poder de mando, estando motivada tão simplesmente em vinganças pessoais, inveja ou ainda na pura maldade, numa óbvia demonstração de que os que cometem, sentem-se inferiorizados, deixando claro as suas incapacidades de não poderem superar seus algozes.

Mas como o mal não perdura para sempre, consciências vão se despertando e buscando caminhos para as necessárias mudanças; pessoas dotadas de virtudes inatas vão aflorando e através de suas ações e comportamentos vão aglutinando outras a se irmanarem na busca de objetivos comuns.

São as chamadas lideranças naturais que diferentemente da grande maioria dos chefes, estes últimos investidos de funções que possuem maior autoridade, aos poucos vão ganhando espaço na discussão das tardias mudanças que devem ser operacionalizadas.

Muita das vezes, nós como seres humanos temos que operar mudanças internas, revendo conceitos e valores, adequando-os inclusive a realidade, o que não quer dizer mudança de personalidade ou caráter (estes são imutáveis), mas sim ajudar a consertar o que está errado, contribuir para um processo de amadurecimento pessoal e institucional.

É uma questão de escolha e alguém já profetizou: “A vida é feita de escolhas, quando se dá um passo para frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás”.

São Luís-MA, 19 de maio de 2012.

TEN CEL QOPM Carlos Augusto FURTADO Moreira
celqopmfurtado@hotmail.com – celqopmfurtado@gmail.com http://www.celqopmfurtado.blogspot.com/

Um comentário:

  1. O fim das PMs é uma questão de tempo!
    Com a promulgação da CF/1988 muitas coisas deverias ter mudado nas instituições militares estaduais que, dentre centenas de problemas, por exemplo, ainda não chagaram a conclusão se querem continuar a ser um ridículo arremedo do Exército Brasileiro ou se querem avocar para si a profissionalização do policiamento ostensivo.
    Já são mais de 20 anos!!!
    Desde 1988, quando foram abandonadas pelo governo central, as PMs continuaram a massacrar e matar sem se importarem com o seu papel ESSENCIAL de segurança pública na era da democracia. Seu oficiais continuaram a reproduzir para os subalternos o equívoco da aplicação da força ao invés da força da aplicação da Lei.
    Eram temidos, continuaram mau vistos e hoje gozam do desprestígio dos aplicadores da Lei (MP e Judiciário) e principalmente da população. A PM não é a melhor opção de policiamento. Ela é a única. E o faz amadoristicamente.
    Com o tempo, seus oficiais descobriram que ser subordinado político dos governadores trazia dividendos pessoais invejáveis, mas isso criou um bolsão de insatisfação nas hierarquias menores que SÓ AUMENTA e hoje ameaça a própria existência das PMs do Brasil: grupos de extermínio, peculato, uso desequilibrado dos RDs, insatisfação da tropa,etc...
    A PM em sua miopia e escuridão cultural, ainda hoje não quer policiais. Quer soldados. Basta ir ao CIEPS para ver os alunos (termo pejorativo no militarismo) aprendendo “Direitos Humanos” e trato com o cidadão: de terçado nas mãos, à sua frente muito mato e o sol das 15 horas sobre suas cabeças...
    A PM tem que acabar porque desvaloriza já na (de)formação policial ao obrigar os alunos às tarefas que não são suas. São de responsabilidade de quem “administra” o CIEPS, contratar roçadores para tal. Entendem porque o policial não pode ser soldado?
    O novo SEMPRE vence!
    O que é velho, adoece e morre!
    Que nasça a polícia dos cidadãos-policiais!

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