domingo, 5 de setembro de 2010

Nunca se matou tanto em tão pouco tempo

Quarta-feira (02), 5 horas da manhã, bairro 06 de agosto. O comerciante Adalberto Henrique Araújo é assassinado com um tiro na cabeça após reagir a um assalto. Quinta-feira (03), à noite, Júlio Cesar de Barros, 34 anos, é executado com quatro tiros. O crime aconteceu na rua São Marcelino, no Bairro Defesa Civil.
Nas regiões de elite e na periferia, não há nenhum cidadão que não esteja gritando, cada um do seu jeito, cada um com a sua voz, mas todos pedindo Paz e Justiça. Em agosto deste ano, 24 pessoas morreram em Rio Branco-AC, vitimas da violência. Oito por homicídios e 12 vitimas de acidentes de trânsito. Na quinta-feira, a sociedade realizou a segunda passeata em Rio Branco, pedindo socorro as autoridades, que a tudo assistem e nada fazem.
Atrás das tristes grades e nas fachadas dos edifícios, nas esquinas inseguras, nas cartas aos jornais, na televisão, no rádio, nas ruas, nas avenidas, todos, mesmo os mais calados, estão gritando um só grito: chega de violência!
A Policia Civil esconde números por ordem do governador. Dificulta acessos as informações. Crimes insolúveis como o seqüestro do menino Fabrício e o assassinato do vereador Pinté [Acrelândia], deixam no ar, um sentimento de impunidade. Por trás de toda onda de insegurança, delegado é denunciado pelo Ministério Público, por proteger filho de família rica acusado de delito. Presos serram grades e fogem inexplicavelmente de Unidade prisional no centro da cidade. Em Cruzeiro do Sul, sem rebelião, detentos fogem da penitenciária. Que sistema é esse?
Depois de milhões de investimentos em Segurança Pública, o Estado do Acre parece perder a luta para o tráfico de drogas e o crime organizado. Nas ruas, trabalhadores são espancados. Alguns, como o padeiro Leandro da Silva, confundido como bandido foi violentado por um candidato a deputado estadual, membro do PCdoB, partido que tem candidato majoritário na chapa da Frente Popular do Acre.
Será que alguém está ouvindo o clamor da sociedade?

Depois de espancado, vida da família do padeiro Leandro virou um inferno
- Os responsáveis pelo espancamento do meu marido continuam soltos e eu e meu marido estamos trancados dentro de casa com medo de morrer – diz Juliana Pereira.
O depoimento foi gravado na visita que o ac24horas fez ao padeiro Leandro da Silva, que passou a viver em cima de uma cama, com o maxilar quebrado e sem fazer aquilo que mais gosta: trabalhar.
- Ele saiu para trabalhar como um dia comum e derepente, amanheceu o dia no Pronto Socorro algemado como bandido – acrescenta em tom de revolta sua esposa Juliana.
O padeiro foi confundido como se fosse um bandido e espancado, segundo testemunhas, com a liderança de Toinho do Bezerra, um candidato a deputado estadual do PCdoB. Ainda segundo Juliana, “Toinho depois que espancou meu marido foi no trabalho dele e disse ao patrão do Leandro o que tinha feito”.
Na Delegacia, Juliana conta que ainda foi ameaçada e orientada a não divulgar o nome do candidato.
- Eu tenho medo de morrer [baixou a cabeça e chorou...] Agora eu e meu marido vivemos assim, trancados dentro de casa. Tenho medo até de abrir a porta, Não sei o que pode acontecer com meu marido e eu. Somos trabalhadores, vivemos juntos a quatro anos, nunca tínhamos ido a uma delegacia. Tínhamos uma vida tranqüila e virou esse inferno por causa da irresponsabilidade de um cidadão que ainda tem coragem de pedir votos! – desabafou.
Na sexta-feira, quando gravamos a entrevista, Juliana se preparava para ir à Delegacia depois de receber um telefonema que revelava o nome do verdadeiro autor do arrombamento ao carro de Toinho Bezerra.
- Vou relatar o que a testemunha me disse ao telefone e espero que seja feita justiça. É só o que queremos, que seja feita justiça! – concluiu.

Na Baixada do Sol, comunidade criou toque de recolher
Ainda sobre o relato da escalada da violência, ac24horas conheceu o comerciante Alexandre Pereira. Ele vendeu o seu comércio e voltou a viver de bicos que faz com vendas, com medo de morrer vitima de assalto. Pereira conta “que por duas vezes, teve um revolver apontado para sua cabeça”.
- Cansei de trabalhar para bandidos. Não tinha paz, prefiro ganhar pouco dinheiro e viver em paz com minha família – acrescentou o comerciante que pediu para não ter sua imagem preservada.
Em algumas ruas da Baixada – região que concentra o maior numero da população da capital do Acre -, principalmente as que fazem limites com os bairros da Bahia Nova e Palheiral, ninguém anda depois das 22h. Em entrevista, uma senhora evangélica que pediu para não ser identificada, disse que mudou o horário de ir à Igreja, com medo de ser assaltada.
- Aqui quem anda depois das 22h paga pedágio ou está sujeito a perder a vida para os bandidos. Todos são drogados, querem dinheiro para o tráfico. Vou à Igreja somente durante o dia – comentou a evangélica.
Operação Abafa Rio Branco vai diminuir índices de violência nos próximos dez dias
A garantia foi dada ao ac24horas em entrevista exclusiva concedida pelo comandante da Policia Militar, cel. Romário Célio.
Cafezinho na mesa, água gelada, ambiente climatizado e pela frente, um comandante calmo, sereno e consciente de seu dever constitucional. Assim foi conduzida a entrevista no gabinete da Policia Militar. Célio fez um verdadeiro desabafo, falou com emoção, citou a própria família, assegurou viver um dos momentos que sempre sonhou profissionalmente, com um efetivo nas ruas, perto do ideal.
- Acho uma covardia muito grande que fazem com as policias quando atribuem a elas as questões de insegurança. Segurança não é um problema somente de policia – comentou Romário Célio.
Pai de duas filhas, o comandante acredita que somente com o fortalecimento da instituição família poderá acontecer a diminuição dos números de violência. Abrindo o seu coração, Célio disse que o seu sonho “doravante, com o policiamento ostensivo que tem nas ruas é prender menos pessoas”. O comandante da PM quer transferir para as ruas, a operação tática que funciona no carnaval.
- Eu cheguei a prender 700 pessoas numa noite de carnaval. Hoje na noite que dá 20 já é demais. Eu espero que nesse momento em que teremos uma terapia intensiva na parte de policiamento ostensivo, com as novas estratégias, dentro de um prazo de dez dias, a sociedade possa ver muito mais eficiência de nossa policia – garantiu o comandante.
Célio ver um lado positivo na prisão de reincidentes. Para o experiente coronel, “isso mostra que o crime não tem se reciclado no Acre. Um número menor está entrando para o mundo do crime”.
Ele fez duras criticas aos políticos que vão para frente da televisão, criticar o sistema de segurança pública, mas se omitiu de criticar a secretária de segurança, Márcia Regina, que até agora nada fez para frear a bandidagem na capital.
- Ainda tem candidato que se aproveita de um momento como esse, com discurso populista, e que como deputado federal não apresentou nenhum projeto para a Segurança Pública, para mudar essa realidade – desabafou.

Regionais terão operações estratégicas
Célio prometeu fechar o cerco em toda cidade. Será o que ele chamou de massificação da Operação Abafa Rio Branco que será realizada em cinco regionais. Para melhorar a atuação dos policiais militares, o comandante transferiu mais responsabilidades aos patrulhamentos, inclusive, com Policiamento Escolar e de Trânsito incluído nas competências de cada comando.
Célio destacou ainda que hoje a policia militar trabalha com um Sistema Integrado de Gestão Operacional – O SIGO, que tem permitido aos militares, um trabalho técnico e de maior aproveitamento.
- Agora não ficamos mais naquela de dizer que a área de conflito é no forró do Valdomiro, tudo é monitorado tecnicamente. Portanto, estou muito seguro de que vamos reduzir a violência em Rio Branco, no prazo máximo de dez dias – concluiu o comandante.
Os primeiros números já foram apresentados. Nesta semana a Policia Militar efetuou 66 prisões, 11 delas, por flagrante de roubos.
Procurada por ac24horas, a Policia Civil não contribuiu com os dados requisitados após contatos telefônicos com a assessoria de imprensa da instituição. A intenção nessa reportagem era mostrar quadros comparativos da violência entre os períodos de 2009 e 2010.
Alvo de criticas, principalmente com relação a Lei de Execução Penal (LEP), o Tribunal de Justiça do Acre através de sua assessoria de imprensa, preferiu não debater o tema no calor do discurso político vigente. A Justiça, segundo a assessoria, tem consciência de está cumprindo o seu dever constitucional.
A Associação dos Magistrados do Acre (Asmac) não deu retorno aos contatos feitos pessoalmente com a sua assessoria de imprensa e nem enviou os dados relacionados ao mutirão carcerário realizado em parceria com o CNJ.
Jairo Carioca – Especial para ac24horas
Rio Branco, Acre

3 comentários:

  1. É claro e evidente que as polícias (PM e PC) estão fazendo a sua parte e, até que se prove ao contrário, razoavelmente bem. O que falta são os parlamentares a nível federal colocarem um tempero mais rígido na legislação em vigor.
    Agora o que não vale é o governo tentar tampar o sol com a peneira, divulgando dados que não condizem com a realidade, de que a criminalidade está sob controle. Pura mentira!
    Agora pergunta-se, por que não divulgar o nome do candidato? Porque é da FPA? Fosse do outro lado, heim?! Fosse um PM ou PC estaria nas primeiras páginas e a Secretária da SSP já teria dado entrevistas coletiva para divulgar nomes e ameaçar de exclusão. Não sabemos porque isso! Esse fato lembra de Walter Prado, quando era o "Xerife" da PC, em que tomou a frente de uma ocorrência atendida pela PM com intuito de proteger "filhos de papaizinhos" que fizeram assalto na cidade. Por isso, heim?

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  2. ALGUMAS CAUSAS DA VIOLÊNCIA ATUAL

    A violência e a criminalidade são objetos difíceis de serem estudados, pois não podem ser estudados sob o efeito metodológico simples. A sua ocorrência envolve muito mais do que esquemas linear de causas consequências. Na realidade, a violência como atualmente se apresenta tem uma gama de fatores causas, de certa forma qualificáveis. Identificar isoladamente o conjunto das causas não é tarefa impossível.
    É importante destacar que a violência não é um problema exclusivo do Brasil. Praticamente todo mundo se debate numa grande crise de instabilidade, tensão, contestação e confrontação que tem sua expressão através dos atos anti-sociais praticados em escala nunca anteriormente conhecida.
    Vejamos algumas causas gerais de violência em nosso país:
    - Falta de controle sobre o crescimento populacional;
    - Facilidade da população em se armar ;
    - Crescimento populacional sem preocupação social;
    - Má distribuição espacial da população;
    - Mobilidade geográfica da população;
    - Concentração geográfica das atividades industriais;
    - Falha no processo educacional (e educação da população é fator essencial para o seu progresso. Uma educação inadequada prejudica o processo econômico e a vida em sociedade);
    - Influência dos meios de comunicação;
    - Insegurança no seio da comunidade;
    Insatisfação pelo não atendimento das necessidades individuais;
    - Substituição do diálogo pela contestação;
    - Afrouxamento dos vínculos e padrões sociais (o desrespeito de homem para homem e deste para com a estrutura social que não consegue satisfazê-lo. A reciprocidade deste comportamento relaxa ou desfaz os padrões de comportamento social, e anula o pacto social, comprometendo a cerne da sociedade); e
    Por último, temos o enfraquecimento das instituições sociais (a família, a educação, a religião, o trabalho, o estado, todos, enfim, são vítimas da crise da violência).
    A relação apresentada é bastante genérica, mas acredita-se que abrange a quase totalidade daqueles fatores causais e boa parte dos intervenientes, inclusive o inter-relacionamento delas mesmas.
    Vale destacar que fatores naturais contribuem também para a violência,
    Por fim, o meio físico, as características biológicas, genéricas ou adquiridas e problemas de ordem psicológicas influenciam o já pouco agradável quadro de violência.

    Por Mário José Dias.
    (Pedagogo, Oficial da reserva da PMAC e Membro da Equipe de Campanhas da Paróquia Cristo Libertador)

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  3. VIOLÊNCIA: O PAPEL DO ESTADO

    O estado existe para gerir as atividades e os recursos de que dispõe a Nação com o objetivo de criar condições de proporcionar à comunidade nacional o máximo de bem-estar.
    Sua estrutura lhe permite atuar sobre tudo o que se desenvolve no país ou que diretamente lhe interesse, estando aí a segurança pública, que será resultante das medidas preventivas e repressivas, desenvolvidas para garantir o cumprimento da lei, o livre exercício dos poderes constituídos e o respeito ao direito do cidadão.
    Na generalidade de sua função, tem o estado capacidade de atuar sobre as causas e sobre os efeitos da violência, como forma de assegurar a conquista e a manutenção dos objetivos comuns, através de uma convivência harmônica no seio da sociedade.
    Atuação sobre as causas da violência, caracterizando uma atitude eminentemente preventiva do estado tem como principal forma de ação a busca incessante do desenvolvimento tomado sob o ponto de vista mais amplo de sua compreensão.
    O desenvolvimento assim considerado, manifestar-se-ia numa elevação geral da qualidade de vida.
    Abrangendo aspectos psicológicos, sanitários, econômicos, políticos e sociais de forma a proporcionar a todos condições, no mínimo, satisfatórias de vida.
    Tal resultado será, como muitos querem fazer crer, conseqüentes de medidas socializantes, primeiro porque estas, na prática, não conseguem igualar a todos, e segundo porque cada um tem um papel próprio no âmbito da sociedade, não sendo justo distribuir tudo igualmente.
    Entretanto o ideal é que aquelas que menos recebem o façam de forma a viver humanamente. Criar as condições para que tal aconteça é o papel do estado.
    A incapacidade estatal de conseguir a realização deste objetivo gera tensões internas na sociedade, que acabam por comprometer todo ordenamento social trazendo o medo, gerador de novas tensões que vão então agravar o clima de insegurança, imbuindo na população a sensação de caos.
    É bastante difícil para o estado combater a violência e seus efeitos, resultante da incapacidade de promover o bem comum se, intrinsecamente, ela é a manifestação individual ou coletiva das tensões geradas por condições desfavoráveis de vida, salvo casos de incapacidade total de adaptação a vida social. A violência, neste caso, se configura como um clamar contra as condições em que se vive.
    Combatê-la apenas é como calar o grito do doente quando não se tem meios de curá-la.
    É neste campo, o da repressão, que se encontra a maior dificuldade para o estado moderno.
    É esta uma área crítica, a de atuação dos organismos policiais, cuja ação é meramente paliativa, evitando a manifestação dos efeitos da crise social, materializando nas diversas formas de violência, ou reprimindo-as quando eclodem, tratamento que quase sempre deixa seqüelas que vêm alimentar o mecanismo da crise.
    Também o poder judiciário apresenta deficiência e tem se tornado desacreditado, principalmente quanto à justiça criminal.
    Todos nós sabemos, e os próprios membros do Judiciário reconhecem, as deficiências graves e abrangentes que afligem aquele poder, fazendo com que ele, entre outros aspectos, torne-se um dos causadores da impunidade, que tanto estimula a violência.
    A agilização do poder judiciário é uma necessidade sentida em todos os níveis sociais. O povo brasileiro não acredita na sua justiça. Não pela sua incompetência, mas pela sua demora nos julgamentos dos processos que lhe são submetidos.
    A repressão à violência somente se completará quando a sanção penal correspondente ao fato delituoso for aplicada com a rapidez necessária, retirando do meio social aquele que transgridem suas normas e mostrando àqueles propensos à prática de delitos o risco que correm pela rapidez e eficiência da justiça.

    Por Mário José Dias.
    (Pedagogo, Oficial da reserva da PMAC e Membro da Equipe de Campanhas da Paróquia Cristo Libertador)

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