Respeite meus cabelos brancos

47% dos militares inativos afirmam que já sofreram preconceito e discriminação de militares da ativa, diz pesquisa

Preocupante. Assim pode ser traduzido o resultado de uma pesquisa realizada por dois alunos do último Curso de Habilitação de Oficiais Administrativos (CHOA) da Polícia Militar do Acre. De acordo com dados levantados e expostos em uma monografia disponível no Centro Integrado de Ensino em Segurança Pública Francisco Mangabeira, 47% dos militares inativos afirmaram que já sofreram preconceito e discriminação de militares da ativa.

As entrevistas abrangeram militares inativos de diferentes anos de reserva e de diferentes postos e graduações e teve a duração de dois meses de 2010. O objetivo do trabalho científico foi demonstrar a importância da PM do Acre criar um Programa de Preparação para a Inatividade.

- Embora seja inferior ao número de militares que afirmaram não ter passado por discriminação ou desrespeito (53%), esse é um índice muito alto para militares que recentemente deixaram o serviço ativo. Vê-se neste item que os policiais que ainda se encontram em atividade devem também ser instruídos para o respeito à hierarquia e à disciplina, uma vez que o aposentado ainda goza da patente, ainda é um superior hierárquico de alguns ou de muitos na tropa. Entretanto, mais do que respeito à hierarquia, quem está na ativa deve ser orientado ao respeito ao ser humano, seja criança, jovem e idoso, no respeito aos valores, às opções religiosas, sexuais e políticas. É difícil imaginar que um militar da ativa que não respeita um ex-companheiro possa respeitar pessoas comuns da sociedade, escreveram os alunos.

Para a vice-presidente da Associação dos Militares, Maria das Candeias, a discussão envolve a vida militar quando na ativa.

- Uma pessoa que só perseguiu, que não respeitou ninguém, que não lutou pelos interesses da categoria dificilmente não irá sofrer discriminação pela tropa, ponderou a militar.

De acordo com informações da Diretoria de Recursos Humanos (DRH/PMAC), de 2010 a 2015, 350 policiais militares irão para reserva, isso representa cerca de 13% do efetivo total. Somente esse ano, 68 devem deixar a caserna e dependurar o coturno.

Número de militares que irão para reserva até 2015

Fonte: DRH/PMAC

Discriminação do governo

Trecho da monografia

“Cerca de dois anos atrás, um grupo de militares inativos reivindicavam receber a gratificação do risco de vida. Um dos principais argumentos da comissão era a de que uma vida inteira prendendo infratores colecionava inimigos que poderiam se aproveitar da aposentadoria para realizar ataques criminosos. O grupo não estava sem razão. Como mostrava a pesquisa desenvolvida pelo DRHM sobre as mortes de militares entre os anos de 1974 a 2007, dos 184 óbitos, 29 eram de policiais que se encontravam na inatividade. A comissão se encontrou com representantes do Governo do Estado do Acre para debater o assunto e recebeu a informação de que não seria possível atender tal pedido. Descontentes, os militares não cederam à negativa e questionaram mais uma vez e ouviram como resposta: “não gostaram, faz uma greve”. Sem comentários”.