quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Um pensamento contra a desmilitarização

É preciso desmilitarizar a polícia? Não

ALVARO BATISTA CAMILO
ESPECIAL PARA A FOLHA

DEPRECIAR, DESMERECER, DESMILITARIZAR

O desconhecimento do que é a Polícia Militar no Brasil leva as pessoas a pensarem, erroneamente, em treinamento de guerra e inimigos. Segundo esse pensamento, a desmilitarização seria a solução para eventuais deslizes e ações violentas.
Só neste ano, em São Paulo, mais de 55 policiais militares perderam a vida defendendo o cidadão e cerca de 400 ficaram feridos, alguns com sequelas para o resto da vida. Isso aconteceu porque eles internalizaram valores que lhes foram transmitidos no consistente e demorado curso de formação, reiterados pelos comandos diuturnamente.
O militarismo nas polícias é a forma de internalizar valores éticos, morais, de ordem e respeito às pessoas. Essa conduta é responsável por tornar os policiais militares homens e mulheres diferenciados por seu comprometimento com a defesa da vida e da dignidade, morrendo por seu ideal, se necessário for. Pelos indicadores apontados, isso não é apenas retórica.
A polícia de hoje é uma polícia cidadã, focada na prestação de serviço. O policial militar não tem inimigo a ser eliminado. Tem um infrator da lei que deve ser preso e entregue à Justiça (Giraldi, 1999).
Todo treinamento nas escolas da Polícia Militar –todas de nível superior– tem esse foco. Há uma disciplina específica de direitos humanos e seus conceitos, junto com a filosofia de polícia comunitária e de gestão pela qualidade, norteiam as ações policiais. Lá se ensina que a razão de ser da polícia é o cidadão.
Os erros e desvios, quando acontecem –e acontecem, como em qualquer profissão–, são rigorosamente punidos por meio de uma corregedoria forte e atuante, que não sobresta procedimentos, que não transfere policial como solução, que não prescreve aposentadoria com salário integral como punição, que não se intimida e expulsa os policiais que não honram seu "compromisso com o cidadão" (slogan da PM de São Paulo em 2010).
Agora que os indicadores não estão tão bons, fala-se muito em mudanças. Mas se ignora que a Polícia de São Paulo foi o fator fundamental no maior exemplo de combate à criminalidade no mundo ao fazer cair os homicídios nas 645 cidades do Estado consecutivamente por 12 anos em 72%.
Destaque-se: a queda não se efetivou em apenas uma cidade, como Bogotá ou Nova York.
Erra quem compara os indicadores de letalidade policial com aqueles existentes nos Estados Unidos e demais países com legislação forte e poucos confrontos. Não considerar essas premissas é o mesmo que comparar banana com laranja.
Caro leitor, a Polícia Militar exerce papel principal nessa conquista, pois o indicador cai quando o crime não acontece. Para isso, é fundamental a prevenção feita pela PM, com planejamento e inteligência, de forma competente.
Cada país tem a sua peculiaridade, o seu arcabouço legal, a sua herança cultural, e no Brasil não é diferente. As Polícias Militar, Civil e Federal têm missões definidas e se completam, na medida de sua competência constitucional. Precisamos aperfeiçoá-las, com melhor treinamento e salários dignos, e exigir que cada vez mais prestem melhores serviços aos cidadãos, aprimorando os seus processos demissórios para banir de seus quadros aqueles que não se enquadrarem na nova ordem.
A Polícia Militar é o sustentáculo da democracia, a garantidora do Estado democrático de Direito, o último anteparo do cidadão contra a criminalidade e, em muitos locais, o único. Devemos trabalhar para que ela melhore sempre, a cada dia, dentro do princípio da melhoria contínua que também a norteia. Depreciá-la, desmerecê-la, desmilitarizá-la é um grande erro.
ALVARO BATISTA CAMILO, 52, administrador de empresas, é vereador de São Paulo pelo PSD. Foi comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo (de 2009 a 2012)

9 comentários:

  1. Se eu fosse; Coronel, ex comandante geral da PMSP e vereador também seria contra a desmilitarização...

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    1. E seria um pouco mais inteligente também.

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    2. kkkkkkkkkkkkk
      Concordo!

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  2. A desmilitarização das policias e um assunto muito polêmico e afeta diretamente a Instituição e a Sociedade. A Sociedade possuí um pensamento que o militarismo e o que reflete a violência policial, porém o problema é a Lei, Falta de Logística, Salários Baixos, Falta de Efetivo, Descaso Social do Governo, etc.... Já os policiais possuem o pensamento de que com o fim do militarismo a pressão e a injustiça não iram fazer parte do seu cotidiano, pois na policia de hoje manda que pode e obedece quem tem juízo. A policia e divida entre oficias e praças, onde os oficiais podem tudo e os praças não podem nada. A grande solução seria termos uma policia mais democrática, atual e com vasta participação nas diretrizes. Num pais democrático de direito como o Brasil não é cabível nas Instituições de Segurança Publica um " militarismo" intransigente como o atual. Não ao fim do militarismo e Sim ao militarismo participativo.

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  3. ....Excelente opinião emitida por um cidadão, hoje na vida civil mas que labutou muitos anos a frente da PM/SP conhecendo detalhadamente a corporação e a sua problemática em minúcias, mas que também ressalta muito bem as qualidades e diferenciais positivos ao se tratar de uma polícia MILITAR; apesar de ainda se ter muito o que falar sobre fatores de influencia na atividade, como legislações brandas e desatualizadas, judiciário prejudicado e deficiente, ineficiência do sistema carcerário, sociedade desigual e exclusória etc... Parabéns Coronel...!!!!

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  4. Eu sou militar e conheço bem a instituição e sei que ela deve ser DESMILITARIZADA!

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    1. Se desmilitarizar, perderíamos as coisas coisa boas: a aposentadoria aos trinta anos e o salário maior. O resto, só iria piorar. Acredite! Se um dia desmilitarizar, vocês me dirão e lembrarão desse meu comentário!!!

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  5. Como o companheiro acima disse, se eu fosse vereador e ex comandante geral da PMSP eu também seria contra a DESMILITARIZAÇÃO, essa polícia violenta, arbitraria e corrupta, principalmente no alto escalão.

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  6. O Brasil ainda não está preparado para uma Polícia "boazinha que não usa arma de fogo" como ocorre em alguns pequenos e educados países da Europa. Estamos vivendo no Brasil uma situação de verdadeira "GUERRA CIVIL", só os "utópicos" não enxergam: bandidos à vontade, roubando, matando, queimando pessoas vivas, estuprando, explodindo, promovendo chacina de Policiais e autoridades do Judiciário o tempo todo, o narcotráfico entrando nas casas de família e destruindo a juventude com maconha, cocaína, craque, recrutando jovens em favelas para matar Policiais a serviço do narcotráfico, manifestantes agredindo e ridicularizando PMs e outras mazelas mais....Com tudo isso acredito que não é o momento de se falar em desmilitarização. Como numa situação de guerra dessas, a PM de São Paulo vai conseguir comandar mais de 120 mil homens e mulheres?
    O que precisa é aperfeiçoar mais ainda o que existe: melhorar os regulamentos, as condições dos Soldados (salarial, moradia, escola para os filhos e etc..), dar mais oportunidade para o acesso ao topo da pirâmide hierárquica. Muito já foi feito. É ILUSÃO achar que desmilitarizando todo mundo vai ganhar a mesma coisa, todos chegarão no topo da pirâmide, NÃO TEM VAGA PARA TODO MUNDO....

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