terça-feira, 8 de dezembro de 2009

William Bratton fala sobre a dificuldade de ser policial no Brasil

Ronaldo França entrevista o chefe de polícia de Los Angeles, William Bratton, responsável pela redução da criminalidade em Nova York e criador do modelo de administração Compstat, que se baseia em estatísticas, no mapeamento do crime e na responsabilização dos policiais por resultados. A revelação do chefe willian Bratton é muito apropriada pois retrata a nossa dificuldade. políciais distintas, divididas em castas e mal-remuneradas. Quem guardará os guardiões?

2 comentários:

  1. Tenho dito e vou repetir:
    a) Nós não somos policiais;
    b) Somos uma força militar praticando policiamento de civis;
    c) Nossa carreira NÃO é policial! É uma carreira militar;
    d) NENHUM Estado brasileiro possui um corpo policial genuíno, haja vista que a CF/1988 manteve, por total ignorância e despreparo político, a força policial oriunda da ditadura militar: CIVL e MILITAR;
    e) Nem mesmo a Polícia Federal escapa da estrutura policial brasileira criada para "alocar" os filhos das elites que se formam em Direito. Assim surgiu no Brasil a figura do "delegado" de polícia, quando na verdade o responsável pelo Inquérito Policial é o promotor de Justiça. O delegado é um "atravessador" nesse esquema que começa com um BO e termina num processo judicial;
    f) O judiciário corrupto, antigo, ineficiente, hermético (até parece parente da polícia!), criminosamente, foi concebido para se manter distante da polícia (braço armado do Estado e não da Justiça)enfraquecendo o poder de punir conferido ao Estado.
    Resultado: caos total!
    Policiais civis criticam militares que criticam policiais civis.
    Ambos criticam o Judiciário que critica ambos...
    A população critica os três: Justiça, PM e PC, e não vê que o problema está no sistema político que empurra os problemas com a barriga até que eles explodam na cara daquela mesma população...
    E tudo continua "sem solução", com o agravamento de uma política equivocada e conduzida pelos Direitos Humanos que desprotege a maioria para proteger uma minoria de criminosos.
    Milhares de vidas são ceifadas sem que tal política seja veementemente questionada inclusive nos Congresso Nacional...
    Nenhuma autoridade tem a coragem de dizer que tal política é um erro que deve ser corrigido assim como toda atividade humana!

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  2. O STEVE JOBS DA POLÍCIA

    A crônica americana de grandes feitos empresariais, como a virada da General Electric promovida por Jack Welch, ou a da Apple, de Steve Jobs, tem agora seu similar no ramo da segurança pública. William Bratton, 62 anos, já era famoso quando conseguiu vencer o crime em Nova York, na década passada. Sua mais recente empreitada foi recolocar o Departamento de Polícia de Los Angeles no trilho. Graças a seu talento para estruturar polícias, alcançou fama inigualável entre os policiais do mundo inteiro. No mês passado, ele trocou o comando do LAPD, que ocupou por sete anos, pela carreira de consultor. Suas lições nesse ramo são preciosas. Bratton falou ao editor Ronaldo França, pouco antes de se aposentar, sobre o que falta às polícias brasileiras para que ganhem em eficiência.

    SEGURANÇA NO BRASIL
    Quando estive no Brasil, em 2002, o país começava a se tornar uma força econômica. Nessa área, o Brasil teve avanços enormes, que não se refletiram na segurança. Eu não sairia do hotel para andar pelas ruas do Rio de Janeiro, como faço nos Estados Unidos. A reputação do Rio é terrível. Eu não iria lá nem a negócios nem como turista.

    SALÁRIOS X CORRUPÇÃO
    A polícia brasileira, como acontece em diversos países latino-americanos, é terrivelmente mal paga, o que encoraja a corrupção. Os policiais ficam muito suscetíveis a receber propostas de suborno para sustentar sua família. Nos Estados Unidos, os policiais ganham muito bem e pertencem de fato à classe média. No Brasil, os soldados
    da Polícia Militar ou os agentes da Polícia Civil são parte da classe social mais baixa. Isso cria uma distância em relação à classe média e aos ricos, provoca grandes dificuldades e
    frustração.


    "Comecei a carreira como policial. No Brasil, seria um soldado de polícia. Eu jamais conseguiria ascender e me tornar chefe de polícia. Seria no máximo capitão ou major"

    POLÍCIA DESMOTIVADA
    Vocês têm uma divisão na Polícia Militar em que os policiais são de uma classe social diferente da dos oficiais. Os soldados não podem chegar ao topo. E os policiais civis e investigadores são uma outra classe. Os delegados são advogados. É um sistema extraordinariamente complexo, que não tem a equidade existente na polícia dos Estados Unidos. Eu comecei minha carreira como policial. No Brasil, seria um soldado de polícia. Jamais conseguiria ascender ao cargo de oficial e, depois, ao de chefe de polícia. Seria no máximo capitão ou major. Eu teria de ir a uma faculdade de direito para me tornar delegado. Em meu departamento, todo investigador pode chegar ao posto mais alto da carreira policial. Não ter chance de ascender é algo desestimulante em qualquer carreira. Não haveria por que ser diferente na polícia.

    TECNOLOGIA
    Ainda há muitas delegacias com aparelhos de fax velhos e máquinas de escrever. Os equipamentos também são muito precários, com veículos em condições terríveis. Esse atraso é extremamente prejudicial. A tecnologia faz parte do coração de um departamento de polícia, claro que operada por pessoal capacitado e bem treinado.

    JUSTIÇA
    É muito, muito importante que as corporações se relacionem com a Justiça, a promotoria, o sistema penitenciário, todos os elementos que compõem o sistema de justiça criminal. No Brasil, isso não acontece. Já estive no Ceará prestando serviços para o governador Tasso Jereissati, que estava muito empenhado nisso e trabalhando com muita seriedade. Despendemos muito tempo lá, implantamos alguns sistemas e fizemos algumas recomendações. Mas a Justiça é extremamente ineficiente. O sistema de justiça criminal brasileiro é tão desconectado que nem sequer pode ser chamado de sistema. É preciso promover uma profunda mudança, ou não se terá nunca uma boa polícia no Brasil.

    Transcrito da revista eletrônica VEJA.

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