Segundo o TSE, policiais militares, civis e federais conquistaram 55 cadeiras nas assembleias estaduais e na Câmara federal Foto: FLM / Divulgação |
O número de parlamentares ex-policiais eleitos no pleito
de domingo cresceu 25% em relação à eleição anterior. Segundo
especialistas ouvidos pela BBC Brasil, esses deputados federais e
estaduais tendem, além de se dedicar ao tema da segurança, a se
organizar em “bancadas” para defender temas ligados à classe policial e
para apoiar posições políticas comuns.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
policiais militares, civis e federais conquistaram 55 cadeiras nas
assembleias estaduais e na Câmara federal nas eleições deste ano. No
pleito anterior, o número de cargos alcançados foi de 44.
Dos parlamentares ex-policiais eleitos no domingo, 15 são deputados federais e 40 estaduais.
De acordo com analistas, no Legislativo – principalmente
na Câmara Federal – esses parlamentares tendem a trabalhar com temas
relacionados à segurança, como debates sobre mudanças na legislação
penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, a reforma do sistema
prisional e políticas sobre drogas e menores infratores.
Entre os temas que devem estar na agenda desses novos
parlamentares devem estar ainda a regulamentação dos papéis das
polícias, a redução da maioridade penal e a punição mais dura a
criminosos que cometem crimes contra policiais.
Organização
Para a cientista política Maria Teresa Micelli Kerbauy, da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), o crescimento da bancada de ex-policiais nos
legislativos estaduais e federal está ligada ao fato de a violência ser
um dos temas que mais preocupa os eleitores, sendo um dos principais
assuntos da agenda política brasileira
Além disso, interesses de classe e as críticas sofridas
pela polícia por sua atuação dura nas manifestações ocorridas entre
junho de 2013 e a Copa do Mundo neste ano foram mais um estímulo para
que membros das forças de segurança se voltassem cada vez mais para a
política.
“Eu acredito que eles (policiais) resolveram se
organizar. É uma tendência que já vinha acontecendo, mas que se
intensificou”, disse ela.
“Eles resolveram se colocar como representantes da categoria (no Legislativo) e defender os interesses da classe”.
Bancada
De acordo com a cientista política, mais numerosos no Legislativo, os
ex-policiais tendem agora a formar bancadas para tentar votar temas de
segurança – o que pode acontecer até de forma independente das posições
de seus partidos.
O ex-deputado estadual e recém-eleito deputado federal
major Olímpio Gomes (PDT-SP) disse que a aproximação dos parlamentares
ex-policiais já está acontecendo. “Vamos trabalhar de forma
suprapartidária para melhorar a segurança pública”, afirmou.
De acordo com ele, por outro lado, isso não significa
que esses parlamentares restringirão sua atuação ao campo da segurança.
“Vamos a fundo em todas as áreas, como saúde, educação e transporte, mas
não se pode desconsiderar a especialidade (em segurança) desses
deputados”.
Segundo Gomes, a articulação dos policiais na política
já vem acontecendo de forma lenta há muitos anos, mas os candidatos
ainda não conseguiram canalizar todos os votos que teriam capacidade de
obter.
“Só em São Paulo, familiares e amigos de policiais podem
formar um grupo de mais de 1,6 milhão de eleitores. Os grupos
religiosos se juntam, os sindicalistas se juntam, os empresários se
juntam – os policiais estão fazendo a mesma coisa”.
Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados
da Polícia Federal, Marcos Leôncio Ribeiro, os ex-policiais podem usar
no Legislativo suas habilidades de investigação para exercer o papel de
fiscalização e controle das ações do governo.
Eleitorado
De acordo com Kerbauy, não são apenas os policiais, seus familiares e
amigos que formam o eleitorado dos candidatos ex-policiais.
Parte da população, diz a analista, é favorável ao
discurso usado por alguns desses candidatos – que, em linhas gerais,
pregam que a melhor forma de combater a criminalidade é uma polícia mais
robusta e enérgica.
Os que mais recebem votos seriam aqueles que usam o
discurso do policial heroico, na “frente de combate”, para atingir o
emocional no eleitor, segundo Marcos Fuchs, diretor adjunto da
organização de defesa de direitos humanos Conectas.
Os ex-delegados ou ex-secretários de Segurança teriam um apelo menor.
“Eles (candidatos ex-policiais) pegam carona nos altos
índices de criminalidade. Usam o discurso de que falta polícia dura,
polícia séria, e isso dá votos”, afirmou.
Porém, segundo Fuchs, o discurso de parte desses
candidatos preocupa organizações de direitos humanos – que temem que
eles ofereçam resistência no Legislativo a deputados alinhados com as
pautas dessas entidades.
Fonte: Terra
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