sábado, 2 de fevereiro de 2013

Especialista em segurança pública diz que a Policia precisa se aproximar mais da sociedade


Jairo Carioca – da redação de ac24horas
jscarioca@gmail.com
Rio Branco – Acre
policiaSegundo dados da Policia Civil, vazados da Delegacia Anti-assalto, entre os dias 23 e 28 de janeiro foram registrados 60 assaltos somente em Rio Branco. Alvos desses crimes foram residências onde o bandido entra e faz pessoas de refém e depois pratica o roubo. Mas qual o tamanho dessas estatísticas?
Profissionais que fazem a cobertura jornalística policial afirmam que a violência em Rio Branco é bem maior, informação confirmada pelo estudo dasCaracterísticas da Vitimização e do Acesso à Justiça no Brasil” da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009. Ele aponta que entre as vítimas de furto – crime que mais cresceu nos últimos anos – 62,3% das pessoas envolvidas não procuram a polícia. O IBGE diz que esse tipo de crime cresceu em todo o Brasil de1,6% em 1988 para 5,4%.
A Pesquisa de vitimização desenvolvida pelo Insper e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, informa que menos de um terço dos crimes ocorridos são comunicados a Polícia.
Enquanto Rio Branco vem sendo palco da escalada assustadora e sem controle de ações criminosas, as autoridades seguem escondendo relatórios de violência 2012. Os números divulgados pela Operação Diáspora apontaram neste final de semana a ação da Policia Civil que evitou a prática de outros 15 assaltos e 05 homicídios que seriam realizados na capital. As ações, segundo as investigações, foram organizadas de dentro dos presídios por membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Rio Branco vive uma crise no sistema de segurança pública?
ac24horas procurou um dos especialistas da Policia Militar do Acre (PMAC), o Tenente Cel. Paladino, para ajudar a entender a onda de violência que dramatizou as famílias nas últimas semanas. Mesmo colocado na “geladeira”, como diz a linguagem da Caserna, o tenente coronel aceitou gravar entrevista. Foi imediato: “existe uma confusão em termos de participação popular. Ela tem que ser direta. Sem a ajuda da sociedade nenhum comando consegue combater a violência, mas essa relação não pode se restringir a realização de fóruns, tem que ser no dia-dia”, analisou.
Primeiro colocado no curso superior de Policia realizado no Rio de Janeiro, Paladino falou com base na experiência que desenvolveu nos comandos da Baixada da Sobral e nos bairros da parte alta da cidade. Ele passou pelos comandos do Alto Acre, 2º, 3º e 5º Batalhão em Rio Branco. Homenageado na fronteira pelas Câmaras Municipais de Brasileia e Epitaciolândia e pela Policia Nacional Boliviana, Paladino defende mais integração entre as policias para o combate ao narcotráfico. Para o especialista, “é preciso quebrar regras para se fazer segurança pública de resultados”.
A entrevista foi gravada em seu ambiente de trabalho, uma sala fria, de quatro metros quadrados, do Departamento de Tecnologia da Informação (DTI) da PMAC. “Colocaram-me aqui!”, disse sorridente o coronel ao recepcionar nossa equipe.
ac24horas – O senhor se destacou pelo trabalho de combate à violência na Baixada da Sobral e nos bairros da parte alta da cidade, como Tancredo Neves e Eldorado. Existe uma receita para esse sucesso?
Ten. Cel. Paladino – Existe uma confusão em termos de participação popular. Ela tem que ser direta. Sem a ajuda da sociedade nenhum comando consegue combater a violência, mas essa relação não pode se restringir a realização de fóruns, tem que ser no dia-dia. Eu fiz um comando diferenciado, fui para as ruas, conversei com a população, entrei em becos, sujei meu coturno, dirigi carros, atendi a ocorrências. Isso nunca foi visto. Hoje as pessoas me perguntam o nome dos comandantes regionais. O comandante precisa agir como médico, fazer exames, diagnosticar o território onde trabalha para, a partir dai, planejar sua estratégia de combate à violência.
ac24horas – Pelo que o senhor analisa, a Policia no Acre precisa se aproximar mais da sociedade, esse seria o modelo de Policia da Família ou Comunitária?
Ten. Cel. Paladino –  Hoje é uma doutrina nacional se tratar a policia mais próxima da comunidade. Mas veja bem, eu falo de diferencial, da saída de rotina. Vou citar dois exemplos: um dia caminhava pelas ruas da Baixada e um senhor com certa idade aproximou-se de mim e me deu um bilhete. Nele estava escrito o endereço de um local onde eu iria prender armas, coletes e outros objetos de uma quadrilha. Fui com minha equipe até o local, abordamos os suspeitos, entramos na residência e encontramos as provas; em outra situação, no Xavier Maia, só consegui combater uma onda de assaltos quando fui até a região e descobri rotas de fugas entre o Xavier Maia e o Residencial Santa Cruz, o residencial Copacabana que saia no Val Querendo, Wanderley Dantas, Placas até o Raimundo Melo. Eu te pergunto: dentro do meu gabinete eu conseguiria identificar esses becos, as rotas de fugas? Onde se consegue informações para combater o crime é no dia-dia.
ac24horas – Esse modelo diferenciado que o senhor aponta deu certo no seu comando, nas áreas onde o senhor atuou?
Ten. Cel. Paladino – Conseguimos capturar mais de 80 foragidos da Justiça. Um número maior do que as capturas feitas pela Delegacia Especializada na época. Apreendemos mais de 60 armas. A Polícia tem que trabalhar com resultados, como uma empresa. De cada 100 abordagens que fazemos 5% dessas pessoas ou estão com armas ou tem problemas com a justiça. O estudo é fundamental, não podemos abordar por abordar. O Policial precisa explicar o objetivo da operação. Tratar bem a população.
ac24horas – O senhor atuou em áreas consideradas mais perigosas da capital. O senhor já foi ameaçado de morte?
Ten. Cel. Paladino – É muito difícil ser policial militar ou oficial. Rio Branco é uma cidade muito pequena, todo mundo se conhece. Existem colegas ameaçados, outros já foram baleados, mortos, vitimas da violência. Eu sempre falo do respeito pelo cidadão, mesmo o bandido precisa ser respeitado. Seja na hora da abordagem ou em qualquer ocasião. Sou contra o racismo ou outro tipo de preconceito. Não digo que as pessoas que eu prendi sejam minhas amigas [sorriu], mas acredito que elas não têm o que reclamar do meu trabalho. Não tenho inimigos, graças a Deus.
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Ac24horas – O senhor foi comandante da fronteira, como o senhor vê o crime organizado na atualidade. O Acre é apontado como porta principal da passagem de droga para outros lugares do Brasil e até do exterior.
Ten. Cel. Paladino – A questão da fronteira eu conheço bem, comandei aquela região. Tem características constitucionais envolvidas. É competência da Policia Federal agir na fronteira. Mas todos nós temos conhecimento que o efetivo da Policia Federal é reduzido, não tem condições de manter o policiamento em toda a fronteira. Quem colocou aquele posto da PM na fronteira fui eu, ele estava desativado. Quando fui comandante eu entrei em contato com a Polícia Federal, procurei a prefeitura, fiz parceria, pintamos e colocamos o Posto em funcionamento. Onde quero chegar: é preciso ter vontade de fazer. Apesar de ser competência da Policia Federal, a Policia Militar pode participar de forma integrada e fazer barreiras. Afinal, tudo é segurança pública. Para isso é que existem os convênios.
Ac24horas – O que falta para o setor de segurança pública do Estado?
Ten. Cel. Paladino – Por uma questão de ética eu não vou me aprofundar nesse tema. Posso afirmar apenas que para o apoio das operações militares, principalmente em Rio Branco, faltam viaturas adequadas para entrar nos bairros de difícil acesso. Essa é uma das principais dificuldades.
Ac24horas – Com toda essa experiência e com os resultados alcançados o senhor se sente bem no setor que atua hoje?
Ten. Cel. Paladino  – Veja bem, eu respeito às ordens de meus superiores. A estratégia é do comando e do governador. Eu não entendo nada de Tecnologia da Informação, não fui treinado para isso, capacitado para atuar nesta área. Aqui dependo do trabalho dos técnicos em informática. Mas colocaram-me aqui!
Ac24horas  – o senhor se sente perseguido politicamente, por ter apoiado um projeto diferente da situação?
Ten. Cel. Paladino – As pessoas me perguntam até hoje porque eu fui exonerado das funções do 5º Comando do Batalhão. Uns dizem que foi o governador que mandou me tirar, mas eu não sei os motivos de minha exoneração. O que eu sei é que a população ficou insatisfeita. Confesso-te que o serviço externo, com a população é muito mais gratificante. Gostaria de estar nas ruas, mostrando o que aprendi com duas faculdades, 24 cursos feitos na Policia Militar.
Conheça mais o Coronel Paladino:
Com 21 anos de serviços prestados na segurança pública do Estado, Paladino é natural do Rio de Janeiro, casado com Jaqueline Paladino. Esta semana ele espera o primeiro filho deste casamento.
Formado em direito e bacharel em administração, o especialista foi o primeiro colocado no curso superior de policia realizado no Rio de Janeiro. Ele trouxe para o Acre, a medalha Major Portugal e foi homenageado pelo atual governador Sebastião Viana.
Paladino se destacou pelos serviços prestados no policiamento de duas áreas consideradas mais perigosas em Rio Branco: o 5º Batalhão [Região Alta da Cidade: Tancredo Neves, Eldorado, Chico Mendes] e o 3º Batalhão, na região conhecida como Baixada da Sobral.
Foi comandante da Policia Militar do Alto Acre, recebeu moções de apoio das Câmaras dos municípios de Brasileia e Epitaciolândia, sendo homenageado também pela Policia Nacional de Boliviana.

3 comentários:

  1. o que acho estranho e que o trabalho tc paladino estava sendo bem feito e mesmo assim ele foi para geladeira!

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  2. Esse seria o melhor cmt da PMAC, pena que o sistema não permite, eu tive o privilergio de trabalhar com ele, sem comentário foi excepcional e graças a ele que os policiais do 5° BPM não estão respondendo por crime de (motim) que Deus lhe abençoa.

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  3. Essse e o cara, do lado da tropa nas ruas com sua tropa!

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