História baseada em uma real
ocorrência policial.
- Ciosp... Ciosp.... Policial baleado na cabeça...
Reforço... Reforço...
Alguns
barulhos me atraem, o de tiros é um exemplo. Ainda mais se forem seguidos de cheiro de pólvora queimada e assobios esfuziante
sobre a cabeça. Isso quer dizer que alguém está atirando em vc, a pouca distância e, o pior, que estão quase acertando.
Olá! Não
me tenha. Estou aqui para te contar uma história.
Antes uma
breve apresentação.
Sou necessário.
Estou em todos os seus passos, tenho muitos nomes e muitos amigos. Estou na sua
mente, mas quando te encontrar darei sinais em todo seu corpo. Dilatarei sua
pupila, segurarei suas palavras na garganta, arrepiarei seus pelos. Mas
acalme-se pois se está vivo hoje é porque já nos vimos e te segurei em alguma
situação que custaria sua vida.
O que te
conto agora aconteceu aqui mesmo em Rio Branco. Era apenas mais um dia de serviço.
Eu estava disfarçado de rotina, todos os policiais fingiam não me sentir. Nesse
dia de trabalho três Policiais Militares me encontrariam e não seria muito
prazeroso. Para eles.
Domingo de
sol e dia de serviço. É assim, enquanto todos procuram lazer eu trabalho. Nisso
me pareço com os policiais.
É manhã. A
viatura já está aos cuidados do motorista que se equipou e fez sua oração.
Comandante e patrulheiro com cassetetes e armas. Ao trabalho.
Foram várias
ocorrências de todos tipos, com isso o dia passou rápido e logo chegou a noite.
Os três homens estão mais íntimos, eles compartilharam dificuldades, sorrisos,
e ainda sobrou espaço para me dividirem em algumas situações, mas nada
comparado ao que estava por vir.
Um deles
brinca comigo e diz sentir cheiro de sangue falando, sob risos, ser isso um mal
presságio. Acho engraçado quando, as vezes, tentam me esconder atrás de
palavras duras e estórias de bravuras, sendo que sempre estou ali na consciência
de todos.
Eu
aguardava a visita de uma amiga, minha melhor amiga, a Morte. Sem dúvidas ela é
a que mais me dá trabalho pois mesmo passando por longe sempre me emprega e me deixa no ar. Quando ela vem e não faz
seu trabalho eu fico responsável por alertar a pessoa de que algo está errado.
Sou
sucinto.. Rápido.. Chego e saio logo. Derramo adrenalina no seu corpo e deixo
todo o resto com você.
Eram 23 horas
de um domingo junino. O ano era 2008.
- Viatura Comando 1 do Bope... É o Ciosp....
- Prossiga com a mensagem... Respondeu o comandante da
guarnição.
- Pergunto se está pronto
para atender ocorrência? Indagou a operadora de rádio da pm.
- Positivo em QAP... Responde o Sargento
usando a linguagem castrence.
Pronto,
estava marcado o encontro.
A voz do rádio
disse que deveriam interceptar um grupo com 4 ladrões que acabara de roubar 11
mil reais, uma moto e armas de uma fazenda que fica na estrada que leva ao
município de Porto Acre, no entanto antes de saírem da cidade eu os
interceptei, mais precisamente, na rotatória da avenida Antônio da Rocha Viana
próximo ao supermercado Casa dos Sereais.
Ao passar
pela rotatória os bopeanos olharam atentos para uma aglomeração formada no meio
da rua devido a um bar que funcionava ali mesmo no contorno. Logo após o
aglomerado avistam uma moto com todas as características da que fora roubada ha
pouco. E era ela mesma, com duas pessoas. Cruzaram pela moto e ao ter certeza
de que eram os suspeitos que procuravam o motorista fez a volta e sairam em
busca. Ao chegar próximo à dupla o homem da garupa dispara contra a viatura,
ele sabia exatamente o que fazer e tentava contra o motorista e o radiador do
carro sempre no intento de parar o veículo. Os tiros, o cheiro de pólvora e os
assobios dos projéteis me chamaram. E lá estava eu trabalhando. A morte apenas aguardava.
Após a
primeira investida me sentia em todos eles, policiais e bandidos, ainda mais,
depois que a morte passou o dedo na cabeça
de um dos homens de preto.
- Ciosp... Policial
baleado na cabeça... Reforço....reforço... Informou o comandante.
Foram
segundos jamais esquecidos na vida daqueles homens, garanto que enquanto
viverem lembrarão de mim e daquele dia.
Agora eu ia
dar espaço para alguns amigos trabalharem. A primeira que ví chegar foi a
Raiva, ela tomara de conta deles e a captura daqueles bandidos passou a ser
prioridade.
- Sargento temos que pegar esse caras. Atiraram na
gente.. Assinalou o motorista me ignorando por completo.
Em seguida
avistei a Vergonha que esperava uma
falha deles para cobrá-los perante seus companheiros caso não tomassem uma
atitude. Contudo, pra meu desgosto, quem assumiu a situação foi minha oponente
a Coragem.
Confesso
que fiquei espantado ao ver aqueles
homens saírem em busca de mim. Em busca dos agressores, indo de encontro
aos seus instintos me enfrentando rejeitando a reação que normalmente causo nos
seres vivos, que é a fuga. Três encontros entre nós antecederam o final dessa
história, todos ocorridos na avenida Getúlio Vargas. Posto Thalma, Ponte sobre
o igarapé Sao Francisco e depois em frente ao SESC. Sempre com muitos tiros.
O piloto da
motocicleta achando que tinha se livrado dos seus perseguidores entrou numa rua
sem saída em busca de atendimento no hospital Santa Juliana pois o da garupa
tinha sido atingido na perna.
Enquanto
isso, dentro da viatura, uma dúvida surgia, continuar a busca ou passar direto
para o Pronto Socorro para tratar do
amigo? Por decisão do próprio policial baleado
seguiram no confronto e mais uma vez me senti superado pela coragem.
No final da
rua um hospital. No estacionamento uma moto caída e dois homens correndo. Ao
fundo do espaço destinado aos carros um sobe no muro e retoma o tiroteio, o outro atingido não
consegue pular o obstáculo e se vira pra esboçar, com tiros, sua última reação.
Um foge e o outro fica até descarregar sua arma. Outra dúvida me levou de volta
a cena. Matamos ou não? Se perguntaram os PMs. A preocupação era se o excesso
iria trazer problemas como prisão e expulsão da caserna. Isso fez com que
acertassem na escolha e não atirassem mais depois de ter acabado a agressão.
Preocupação, esse é um dos meus muitos nomes. Viu? Sou necessário.
Como
resultado um policial baleado na cabeça e um suspeito com 6 tiros pelo corpo e
preso. A morte apenas me mandou como aviso. Nessa hora chegam os reforços
solicitados pela guarnição então me retirei aos poucos e fui dando espaço a
novas historias de bravamente homens tentavam me esconder atrás de
palavras. Meu trabalho foi feito, não precisei mais de que quinze minutos. Esse
foi o tempo dessa história, porém uma
eternidade para seus personagens.
No dia
seguinte foram presos os demais integrantes do bando e tudo voltou ao normal,
mas não para aqueles homens que através de mim enxergaram minha amiga morte.
Ainda não sabe quem sou?
"O medo da morte é o maior medo do homem, nele
está o fulcro do modo de vida de cada homem, assim como o de todas as religiões..."
_____________________
Sgt PM Barbosa Silva - Turma SD 2002 - Turma Sgt 2011....
Ex assessor de imprensa da PMAC
Integrante do Ciopaer/Acre
Bacharel em comunicação social/jornalismo....
O melhor texto que li aqui nos últimos tempos, espero que mais crônicas desse tipo possam ser postadas. Parabéns, belo texto.
ResponderExcluirMeu amigo,parabéns pela forma como retratou fato real.
ResponderExcluirAbraços.
Excelente narrativa Barbosa. Parabéns.
ResponderExcluirParabéns Barbosa pelo excelente texto, realmente foram momentos decisivos para todos os envolvidos, lembro-me que destinei viaturas de todas as regionais, para a ocorrência, cada uma por tragetórias diferentes. Assina o Radio Operador neste dia Sgt Sidiclei Silva - CIOSP 2011
ResponderExcluirParabéns Barbosa pelo excelente texto, realmente foram momentos decisivos para todos os envolvidos, lembro-me que destinei viaturas de todas as regionais, para a ocorrência, cada uma por tragetórias diferentes. Assina o Radio Operador neste dia Sgt Sidiclei Silva - CIOSP 2011
ResponderExcluirGostaria apenas de fazer algumas correções a esta narrativa, os reforços não chegaram em 15 minutos, foram de imediatos, vc não percebeu, mas a motocicleta só entrou em direção ao São Francisco por avistar uma guarnição PM descendo a ladeira da Getúlio Vargas e outra do São Francisco, por duas guarnições de reforço que forçaram entrar no Estacionamento do Hospital Santa Juliana, lembrando que não foram atraz de cuidados médicos e sim apenas da fulga. Sgt Sidiclei Silva - Rádio Operador desta ocorrência
ResponderExcluirOk amigo...recebi essas informações do
ResponderExcluirPoliciamento reservado do dia... Quanto ao tempo da ocorrência foi o q levou do primeiro contato ao término... Confesso q o nervosismo do fato e o tempo q se passou me fizeram falhar nos detalhes, mas como disse a narrativa é baseada naquela ocorrência... Lembro bem das motos chegando e nos apoiando na segurança do local.... Lembrei agora q vc era o rádio operador...lembro de todo empenho q teve e da forma ágil q desempenhou o apoio... Um abraço...